Projeto de revisão da Planta Genérica de Valores é aprovado em 1º turno na Câmara SP

Foi aprovada em 1º turno, na Sessão Plenária desta quarta-feira (8/10) da Câmara Municipal de São Paulo, a proposta de revisão da PGV (Planta Genérica de Valores) da capital paulista. A alteração consta no PL (Projeto de Lei) 1130/2025, do Executivo. A matéria, que também muda a legislação tributária da cidade, teve 28 votos favoráveis e 19 contrários. O texto recebeu uma emenda.

O foco do projeto é adequar a base de cálculo do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) à realidade do mercado imobiliário municipal. De acordo com a Prefeitura, o objetivo é reduzir “defasagens cadastrais, corrigindo distorções territoriais e aumentando a equidade entre contribuintes”. O PL também aprimora “critérios técnicos e transparência metodológica, permitindo previsibilidade e estabilidade ao planejamento fiscal do município”.

Em relação à legislação tributária, a proposta concede isenção de IPTU até dezembro de 2030 a imóveis residenciais localizados em ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) 1, ZEIS 2 e ZEIS 4. “Estima-se que existam 285 mil imóveis nessas zonas, dos quais cerca de 100 mil ainda arcam com o tributo, sendo que aproximadamente metade poderia obter isenção caso houvesse atualização cadastral e enquadramento no benefício por VVI (Valor Venal Individual)”, aponta a justificativa do Projeto de Lei. 

Caso o projeto seja aprovado em 2ª e definitiva votação, o benefício será válido a partir da entrada em vigor da lei. “Esses números demonstram que, embora haja renúncia fiscal, esta se mostra proporcional ao alcance social e à correção de distorções históricas no tratamento tributário de imóveis situados em áreas destinadas à habitação de interesse social”, ressalta o documento.

Além disso, o PL atende à Lei nº 15.044, de 03 de dezembro de 2009. A legislação estabelece que o Poder Executivo municipal deve encaminhar, até 15 de outubro do primeiro ano do respectivo mandato, Projeto de Lei de atualização dos valores do metro quadrado das construções e de terreno unitário na cidade de São Paulo.

Na fase de discussão, o líder do governo na Câmara, vereador Fabio Riva (MDB), defendeu a proposta. De acordo com o parlamentar, com as inovações contidas no texto, especialmente as isenções em ZEIS, “estamos fazendo justiça tributária com os loteamentos de interesse social que estão nas zonas especiais e interesse social”. O parlamentar acrescentou ainda: “Nós estamos fazendo o maior programa de justiça social, fazendo a maior isenção de impostos para as pessoas mais pobres da cidade de São Paulo”. 

Riva também explicou o conteúdo da emenda aprovada. Segundo o parlamentar, há na legislação tributária municipal travas que limitam o reajuste do IPTU em até 10% para imóveis residenciais, e 15% para comerciais. O vereador ressaltou que o dispositivo diminui de 15% para 12% a trava aos não residenciais. “Imóveis comerciais geram emprego e renda também nas periferias. É importante esse projeto”. 

A favor da matéria, o 1º vice-presidente da Casa, vereador João Jorge (MDB), reforçou que a proposta de revisão da PGV é uma obrigação legal do município. “Vou deixar claro: não é aumento de impostos. Há um cumprimento claro da legislação, por parte do prefeito, de que no primeiro ano de mandato é preciso mandar uma atualização da Planta Genérica de Valores”. 

O parlamentar ainda citou as travas legais para que eventuais reajustes não penalizem a população. “Pode ser que um imóvel tenha tido uma valorização de 40%. Nesses casos, haverá uma trava para que não passe de 10% o aumento real [do imposto] daquele imóvel. Outra coisa que está clara: há um número maior de imóveis que sofrerão queda, do que aumento [do IPTU]”.

A bancada do Partido dos Trabalhadores votou contrariamente à proposta. A líder da legenda, vereadora Luna Zarattini (PT), disse que apesar de haver desde 2001 uma alíquota progressiva na cobrança do IPTU, a revisão da PGV de 2021 provocou aumento maior do imposto em áreas periféricas em comparação à zona central da cidade. “98% dos imóveis na periferia tiveram reajuste superior a 50%. 25% dos imóveis na periferia tiveram aumento acima de 150%. Isso é muito”. 

A parlamentar criticou a falta de mecanismos de justiça social na cobrança do imposto. “Hoje existe uma alíquota máxima para os imóveis de R$ 1,2 milhão. Por que não podemos aumentar a cobrança para imóveis de R$ 5 milhões, de R$ 20 milhões? Por que não podemos discutir criar novas alíquotas para os super ricos, para as casas de luxo?”. 

Os vereadores Alessandro Guedes (PT)Dheison Silva (PT)Hélio Rodrigues (PT)João Ananias (PT)Nabil Bonduki (PT) e Senival Moura (PT) também falaram pelo partido. 

Outra bancada contrária ao projeto é a do PSOL. De acordo com o vereador Celso Giannazi (PSOL), há na cidade de São Paulo aproximadamente quatro milhões de contribuintes do IPTU. Ele calculou que, caso a proposta de revisão da PGV seja aprovada com a atual redação, 49% dos contribuintes (cerca de dois milhões) terão aumento de imposto entre 20% e 40%, 16% (670 mil) sofrerão crescimento de mais de 40% do IPTU, e 20% (1,2 milhão) serão reajustados em 20%. 

Por outro lado, segundo Giannazi, apenas 9,6 mil contribuintes (0,24%) serão beneficiados com a redução do IPTU. “Essa Planta Genérica de Valores encaminhada pelo prefeito Ricardo Nunes é abusiva, principalmente com a população mais carente na cidade de São Paulo”, frisou o vereador. “E esses aumentos são acima da inflação. O IPTU é reajustado por decreto, anualmente na cidade de São Paulo, pelo índice da inflação. Nós temos um acumulado da inflação nesse período, de 2022 até 2025, de 22%”.

Os vereadores Amanda Paschoal (PSOL)Luana Alves (PSOL)Silvia da Bancada Feminista (PSOL) e Professor Toninho Vespoli (PSOL) – líder do partido – também discursaram contrariamente na tribuna. 

vereadora Renata Falzoni (PSB) votou contra o Projeto de Lei. Para ela, apesar de a proposta ter méritos, há distorção na forma de cálculo do reajuste da PGV. “O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado de 2025 gira em torno de apenas 3%. E a Prefeitura reavaliou o valor venal dos imóveis em índices muito superiores, o que, na prática, anula qualquer benefício e amplia a carga tributária sobre as áreas populares e de classe média”.

Da tribuna, o vereador Lucas Pavanato (PL) elencou os impactos da revisão do imposto para a população mais carente da cidade. “Fizemos algumas contas de alguns apartamentos para pessoas de origem humilde. Apartamentos pequenos vão chegar a ter aumento de 42%”, destacou ele. “É uma questão não de economia apenas, mas é uma questão de justiça, é uma questão de moralidade. Aumento de imposto é algo inadmissível”. 

Fonte: Portal da Câmara Municipal de São Paulo

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